Caríssimos(as),
Paz e bem a todos(as) vocês!
Ensina-nos o Livro do Eclesiastes que “há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ecl 3, 1-22). Hoje escrevo a vocês para dizer-lhes de uma decisão que não foi tomada por impulso ou ainda sob qualquer tipo de pressão. Esta decisão é de dar outro rumo à conclusão do meu Doutorado em Teologia, concluindo-o aqui no Brasil, o que implica em não mais partilhar do vosso convívio.Ao invés de longas explicações, prefiro dizer que amo a vocês em Cristo e agradeço ao Senhor tê-los(as) conhecido. Vivi um tempo de buscar e perder, desde o momento que, aos 15 anos de idade, saí da casa de minha família para abraçar o sacerdócio. Agora sinto que é tempo de abraçar e amar ainda mais a minha família – atitude esta que, tenho certeza, a maioria de vocês reza e coloca nas mãos de Deus quando não tem a oportunidade de fazer devido às vossas opções. No curto espaço de tempo que convivi com vocês pude sentir nos olhos e nos corações de muitos a saudade e o anseio de poder abraçar e amar a vossa família, mesmo sem poder fazê-lo mais concretamente. Pois bem, rezei e senti que posso fazê-lo agora sem desvirtuar minha vocação, minha missão de serviço e o objetivo acadêmico que me propus realizar. Prosseguirei meus estudos no RJ e viverei em SP, mais próximo de minha família, que como a de vocês, passa agora por seu calvário – morte, doenças e abatimento. Dizer aos outros que se permitam desabrochar como Simão Cirineu ou Bom Samaritano é um convite ao desprendimento de qualquer interesse. Porém, há momentos em que emerge mais forte esta vocação em nós mesmos, então é preciso rever opções e reorientar os rumos.Pensei e rezei muito antes de lhes escrever, porém não temi fazê-lo justamente pela acolhida que me deram e o auxílio que me prestaram sempre e em tudo. Só tem atitude assim quem tem verdadeiro amor no coração, portanto não estarão sozinhos os(as) que tem Deus ao seu lado, e vocês O tem! Conto com a compreensão e entrega na missão cristã e pastoral de cada um(a) de vocês, afinal esta experiência vivendo fora do país me ajudou a compreender que a vocação cristã está além de qualquer muro, lei, burocracia institucional, preconceito, rivalidade, etc., que minhas limitações podiam imaginar.Celebrarei todo final de semana na vossa intenção, pois “compreendi que tudo o que Deus faz é para sempre. A isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar.” O bem querer sempre será maior que nossos miúdos caprichos e vaidades. Este bem querer é o que eu trouxe comigo do convívio convosco e espero ter deixado como pequena herança a vocês, traduzido no respeito, afeto, solidariedade e amizade que senti e espero ter sido recíproco. Sobre se vale a pena continuar trabalhando numa comunidade diante de tudo que vemos, ouvimos e sentimos? Eu lhes digo o que ouvi de meu Pai e vosso Pai, “compreendi que não há felicidade para o homem a não ser a de alegrar-se e fazer o bem durante sua vida.”Um abraço arrochado a todos(as) e que a Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco!
Coragem!
Fraternalmente,
Padre Edson Donizete Toneti
